O sonho do comedor de sushi
- Lucas Ohara
- 19 de dez. de 2023
- 5 min de leitura
Cheguei ao Rio de Janeiro com alguns planos na cabeça. Quando a gente volta para uma cidade em que já morou, é natural querer revisitar alguns lugares e pessoas queridas que marcaram nossa passagem. Muitos dos planos que tinha, é claro, envolviam comida. Mas a história que eu resolvi contar aqui hoje, talvez seja a que, pra mim, alcance o espaço mais especial e diferente das demais no meu coração.

Dentre todas as cozinhas, a japonesa é a que mais conversa comigo. O paladar, a técnica, a história… Isso sem falar de toda a nostalgia e hereditariedade. Sabores e pratos que eu cresci comendo e descobrindo, enquanto assistia meus avós paternos prepararem; desde a limpeza e trato dos ingredientes até a maneira de consumir e por quê.
Apesar de São Paulo ser a grande capital da gastronomia japonesa no país, e casa dos melhores restaurantes, foi no Rio de Janeiro que encontrei
o que certa vez ouvi um grande crítico de sushi descrever como "o sonho de qualquer verdadeiro amante de sushi":
- Encontrar um sushiman que seja como o seu cabeleireiro. Alguém que conheça seu paladar tão profundamente que você não precise nem pensar no que comer. Basta sentar
e esperar a magia acontecer, para sair feliz e satisfeito.
Foi em 2017. Um amigo me indicou um restaurante dentro de uma galeria
na Barra da Tijuca, dizendo que eu não me arrependeria de conhecer… “Puts… dentro
de shopping?”… “Confia! O cara é japonês! Veio de São Paulo não tem muito tempo”.
E veja, isso não é uma questão de preconceito com chefs de sushi cariocas,
é simplesmente lidar com o fato de que um chef vindo da cidade que abriga a maior colônia japonesa fora do Japão, sai ganhando nesse jogo de confiança.
E lá fui eu, me enfiar na tal portinha de vidro.

O Marcelo me viu de fora e eu vim entrando meio ressabiado. Sentei, olhei o cardápio e antes
de pedir, resolvi perguntar sobre o omakase.
O que incluía? Quais peixes? Quais iguarias? Marcelo estranhou, mas não por se sentir desafiado. Pelo contrário! “Você é mestiço?”, “Sim, por parte
de pai”, “Ah! Tá explicado…”. Pronto!
Foi o começo da primeira de dezenas de visitas nas quais nós dois íamos trocando sobre tudo. Se não falávamos sobre comida, matávamos saudade de São Paulo. Ríamos sobre as histórias de similaridade por ter família japonesa. Sofríamos falando sobre
o SPFC. Levei meus amigos para conhecer o restaurante e eles também viraram amigos do Marcelo. A coisa chegou num nível em que às vezes ele pedia para a cozinha preparar um prato extra menu, só para que, tanto eu, quanto ele, matássemos saudade (tipo fazer um chawanmushi, que nós dois comíamos juntos ali no balcão batendo papo, como nessa foto véia aí em cima).
O que dizer? O santo bateu. Tanto que durante o período em que morei por lá, chegamos a sair pra almoçar, experimentar outros restaurantes japoneses da cidade, avaliar, comentar e descobrir mais sobre a cena. Criou-se uma conexão diferente. Dali em diante, o Marcelo atingiu esse tal patamar de “sonho” de qualquer comensal de sushi. Ele simplesmente me conhecia o suficiente para saber de tudo o que eu gostava, a ponto de me avisar quando ia chegar ingredientes excepcionais e novidades para eu provar ou matar a vontade. (Haja VR pra sustentar essa amizade!!!).
Quis o destino que em 2019 eu voltasse para SP e as visitas ao restaurante dele, ficassem mais escassas. Depois de um desentendimento entre os sócios, o restaurante em que o Marcelo era Chef encerrou as atividades e ele ficou buscando novos projetos. Pandemia veio e foi embora, ele seguiu trabalhando, mas eu ainda não tinha conseguido visitar… até essa semana.
Agora em novembro, inaugurou em um cantinho charmoso da Barra da Tijuca
o yujo_rj , casa com menu assinado novamente pelo chef Marcelo Yamasaki (yamasaki_marcelo)! Sabendo disso, a viagem ao Rio não poderia ter vindo em hora melhor.

Que o Marcelão é meu amigo e conhece do meu paladar, vocês já sabem, mas o que eu deixei pra contar agora é que ele é, sem dúvidas, um dos melhores sushimans do país. Dono de um dos, (quiça o melhor) sharis ( shari = arroz japones temperado para sushi) que já comi em terras tupiniquins. A leveza do niguiri, que desmancha completamente na boca, fazendo ser possível sentir cada grão se espalhar, é coisa que só provei lá fora. Some isso à escolha impecável de matéria prima e o cuidado aos detalhes em todas as partes do processo, ao mesmo tempo que não faz cena nem firula. Marcelo é atento e objetivo. Cuidadoso e inteligente em suas combinações e pra lá de atencioso com seus clientes. Como manda o script, tudo ali tem um por quê e faz sentido com o que ele te propõe.
Chegamos no Yujo com as expectativas lá em cima. Eu, Bru (brucominetti)
(que me ouvia falar sobre a comida do Marcelo desde o começo de nosso namoro) e Juju (jujuguimaraes25), que mora no Rio e também acabou virando amiga do Marcelo depois
de tanto aparecermos por lá para queimar nosso Vale Alimentação hahahaha. A verdade
é que nenhum dos três sequer chegou a cogitar, nem por um segundo, que sairia decepcionado dali.
Assim como em 2017, Marcelo me viu chegando ainda do lado de fora. Mas dessa vez, saiu do balcão pra que a gente se desse um abraço, como esse reencontro merecia. Dali em diante, foi papo em dia e pura alegria. Ele estava animado, queria muito que a gente provasse o novo menu. Mandou vir pratos quentes diversos e depois uma sequência gigante de sashimi e sushis. Não preciso nem dizer o quão incrível e impecável estava tudo. Ponto altíssimo para o Buri com pastinha de Yuzu. Uma combinação absolutamente genial. Vale dizer que, apesar de ser um peixe corriqueiro em SP, olho de boi não é algo fácil
de conseguir nas peixarias do Rio. O motivo eu já não sei te contar, foi mal kkkkkkk.

Falando mais sobre o que comemos, tudo foi especial. As frituras, todas maravilhosamente bem feitas e equilibradas. As escolhas e combinações dos sabores, quando não tradicionais, surpreendiam sempre positivamente. Como eu já disse aqui em outro texto, aquele momento
em que a comida se torna o assunto ou puxa outros temas e memórias na mesa. Teve centolla, teve wagyu, teve vieira, cavalinha, ikurá... sem falar no lagostim, que Marcelo prepara com maestria... enfim: Simplesmente incrível. Marcelão brilha em tudo, inclusive no sushi mais “abrasileirado” com trufas, froi grass e etc (tudo SEMPRE na medida, sem excessos e adicionado de maneira inteligente). Mas, eu sempre vou defender que sua genialidade está no tradicional; no seu conhecimento e técnica. Do arroz à escolha impressionante dos pescados. E ele sabe disso. E porque sabe, da pra ver na cara dele o prazer em preparar tudo isso para quem se atenta e faz questão de reconhecer o esmero dele aos detalhes.
- Vocês estão felizes. Mas eu garanto que estou muito mais por ter vocês aqui! - palavras dele, na reta final do serviço. <3

Eu não tenho a menor dúvida de que se
o Marcelo tivesse sua casa, servindo comida tradicional em São Paulo, ele já estaria figurando entre os grandes e renomados do país. Ele tem planos de ter seu próprio espaço no Rio (aguardem novidades em 2024), mas se você estiver por lá, não deixe de visitar o Yujo e toda a equipe. Uma galera gente fina e interessada em tudo o que o Marcelo tem pra ensinar e que faz toda a diferença. Amigos cariocas! Visitem, explorem e valorizem esse tipo de gastronomia na cidade! Há um mundo mágico para além do salmão, cream cheese, hot roll
e carpaccio na piscina de molho trufado hahahahaha. Vem na minha que essa eu garanto ;)























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